Como muitas organizações de ISP no Brasil, o Instituto Natura tem foco na melhoria da educação do país. A partir dos aprendizados de anos de atuação nessa agenda, a organização identificou que era necessário repensar seu modelo.

Sua premissa é que, para transformar a educação no Brasil, é preciso realizar mudanças sistêmicas e, considerando que cerca de 90% das crianças brasileiras frequentam escolas públicas, seria impossível fazer isso sem incidir diretamente nas políticas educacionais.

Analisando suas experiências mais exitosas, o Instituto decidiu inverter a lógica de desenvolvimento de projetos. Ao invés de investir na criação de projetos novos apostando que poderiam se tornar políticas públicas, para assim ganhar escala, resolveu focar esforços para identificar políticas públicas exitosas e fortalecê-las, desenvolvê-las e replicá-las. Entendeu também que precisaria reunir outras organizações com o mesmo foco para que, de maneira articulada, pudessem ajudar o setor público a avançar nessas políticas. Assim, as organizações passariam a se corresponsabilizar com o setor público.

Esse é o modelo de investimento que o Instituto adotou no caso do ensino médio em tempo integral. O projeto, que internamente recebe o nome de Escola em Tempo Integral, ganha nome próprio em cada estado em que é implementado. O papel do Instituto, juntamente com os demais parceiros investidores – o Instituto Sonho Grande e o Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE) – é apoiar as secretarias estaduais de educação naquilo que precisam para que a política seja um sucesso em termos de acesso, qualidade e outros fatores.

Essa forma de trabalho envolve vários desafios, porque exige muito foco – no caso do Instituto Natura, os focos são ensino médio e alfabetização – muito investimento, resiliência, visão de longo prazo e comprometimento do conselho, pois as metas ficam atreladas a variáveis incontroláveis.

A política de ensino médio em tempo integral mostrou-se uma estratégia exitosa com a experiência de Pernambuco, em 2004, que implantou o Programa de Fomento às Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral.

Em 2016, o MEC decidiu nacionalizar a experiência, comprometendo-se a investir cerca de 1,5 bilhões de reais até 2019 para dobrar as vagas nessa modalidade. Em 2017, 516 escolas haviam sido financiadas e, em 2018, o número havia crescido para 976, sendo a participação da filantropia fundamental nesse processo. Em 2022, a iniciativa atua em 20 estados brasileiros, tanto acompanhando o processo de implementação quanto o de expansão, envolvendo quase 2.400 escolas e aproximadamente 760.000 estudantes.